“Planejar as aulas – com quais recursos?”
OLLER, DÉBORA. CEDAC
Os livros didáticos sempre estiveram presentes no ambiente escolar. Fazem parte da história da maioria de nós como estudantes. Quem não se lembra (salvo raras exceções) das cartilhas “do vovô viu a uva” ou dos livros de matemática com as célebres atividades de “arme e efetue”, ou a teoria dos conjuntos com suas correspondências biunívocas? Durante muito tempo os livros didáticos que chegavam às escolas estiveram à margem dos conhecimentos que vinham sendo produzidos no campo de pesquisas da didática da matemática. As publicações, de maneira geral, insistiam em metodologias pautadas na simples “explicação/definições e aplicação direta” de conteúdos. Apresentava-se o conteúdo, logo o “faça como no modelo” e tudo se “resolvia” com uma lista de exercícios para “fixação”.
Nos últimos anos, no entanto, a partir da publicação dos PCNs e com o desenvolvimento do PNLD temos assistido a uma crescente melhora na qualidade dos livros didáticos no Brasil. Os autores desses livros, pressionados pelos critérios de seleção e aprovação do PNLD têm produzidos obras cada vez mais atualizadas e coerentes com os princípios didático-pedagógicos defendidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Isso não quer dizer, é claro, que os atuais livros didáticos “resolvem” todos os problemas dos professores sobre como planejar e encaminhar as situações de ensino aprendizagem nas aulas de matemática. No entanto, essas publicações se apresentam hoje, em melhores condições de atender as necessidades apontadas pelas educadoras nossas colegas nos registros que compartilhamos acima. E vejam, do nosso ponto de vista, elas colocam muito bem a situação; se referem à necessidade de materiais que ajudem, auxiliem e que se constituam em referências para o desenvolvimento do trabalho em sala de aula.
Parece-nos muito adequado colocar a coisa dessa forma, pois no que diz respeito ao livro didático entendemos que, embora mais atualizados, ele – o livro– não pode ser seguido cegamente e sem critérios. O livro, do nosso ponto de vista, deve ser encarado como um recurso com o qual o professor pode contar (com critérios) no planejamento de suas aulas. Esse lugar, o de recurso, não se confunde e não deve ser confundido com o de um “projeto de ensino”. O projeto de ensino que chega à sala de aula deve ser do professor, em consonância com sua equipe de trabalho, sua escola e sua rede; que por sua vez deve fundamentar-se em princípios educacionais, pedagógicos e didáticos. O
projeto de ensino deve ser o resultado de um trabalho coletivo e não o resultado do que é “ditado, editado” pelos autores (ou, pelas editoras).
Além disso, sabemos que boa parte do que promove a aprendizagem dos alunos está na interação entre eles na sala de aula, nas discussões coletivas em que o professor coordena diferentes pontos de vista, no acompanhamento e nas intervenções do professor de acordo com as necessidades específicas dos alunos e assim por diante. Sendo assim, parece que é quase impossível que um livro didático (por melhor que seja) contemple todos esses “afazeres” da gestão de uma classe.
Nesse sentido, considerando essas inevitáveis limitações, atribuímos ao livro didático o papel de recurso e não o de “projeto de ensino”. Entendemos, porém, que se bem utilizado, esse recurso pode vir a contribuir de maneira significativamente qualitativa para a melhoria do trabalho em sala de aula. Por quê? Veremos a seguir.
O livro Didático- um recurso importante
O primeiro ponto importante a ser destacado é esse. Diante da escassez de materiais e recursos que muitas vezes enfrentamos a possibilidade de garantir um material comum para todos os alunos da classe já nos obriga a pensar nas melhores formas de potencializar o uso desse recurso.
Embora tenhamos considerado antes que os livros didáticos sempre apresentarão limitações, consideramos também que atualmente muitos trazem boas contribuições para o professor gerir o seu trabalho. Por esse motivo, é importante que haja por parte da equipe de professores um trabalho coletivo de estudo sistemático em torno do livro de maneira a identificar o que pode funcionar bem e o que precisará ser ajustado, complementado, modificado. Esse trabalho coletivo também é importante para que a equipe da escola chegue a acordos sobre vários outros aspectos de natureza curricular: como serão distribuídos os conteúdos ao longo do ano, dos bimestres? Como o livro organiza os diferentes blocos de conteúdos? Em que ordem serão abordados? etc.
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